sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Um pouco de Lilian Chazan

Com vocês, a médica e psicanalista Lilian Krakowski Chazan, palestrante do Ciência em Foco de 2 de outubro.

1) Como foi o seu encontro com o cinema?

Sou uma cinéfila amadora, não profissional. Na minha infância, a lembrança mais remota é a dos filmes que meu pai pegava emprestado nas embaixadas soviética e tcheca, pré 1964, e também americana, para exibições caseiras nos aniversários. A lembrança daquelas sessões, do quarto escurecido, da projeção no lençol estendido na parede, do barulho do filme rodando no projetor, do cheiro da película aquecida pela lâmpada, além da graça dos grandes cômicos Harold Loyd, Max Linder, Buster Keaton, Chaplin, e do conteúdo lindo dos desenhos tchecos e russos, evocam uma sensação completamente mágica. Falar de magia, sonho, associados ao cinema é totalmente lugar comum, mas fazer o quê?

2) Que pontes você estabelece com o cinema a partir do seu campo de formação?

Acho que o fato de o ano considerado inaugural do cinema e da psicanálise ser o mesmo - 1895 - não é casual. As duas coisas me parecem ser respostas, em campos diversos, a preocupações circulantes na cultura europeia do final do século XIX. Há um sem número de ligações possíveis, começando pela possibilidade de colocar na tela experiências oníricas. Os diversos ciclos Cinema & Psicanálise que proliferam pela cidade são a expressão da imensa quantidade de ligações possíveis.


3) De que modo David Cronenberg, neste filme e em outros, dialoga com o universo da ciência?

Estou longe de ser uma profunda conhecedora da obra do Cronenberg, mas há algumas temáticas recorrentes que me chamam a atenção. Uma delas é a interação ou simbiose corpo-tecnologias, um tema para lá de atual; a outra, experimentos científicos com o corpo que têm desdobramentos inusitados, alegorias com tonalidades de pesadelo. Recomendaria eXistenZ e The Brood, como exemplos desses temas.

4) Por que falar sobre a ciência é tão instigante?

A ciência está indissoluvelmente ligada ao social. Ela é ao mesmo tempo produto e agente de mudanças, e a ambiguidade é inerente aos processos sociais. Falar de ciência, discuti-la e problematizá-la é falar e discutir a sociedade e seus processos.


5) Na sua opinião, qual a importância de ferramentas como essa (blog) para a divulgação do cinema e de produções em torno dele?

Acho que é uma ferramenta dinâmica e que deve ser usada em toda sua potencialidade. Eu me declararia uma 'adicta' ao pensamento. Viciada mesmo. Assim, qualquer possibilidade/ferramenta/oportunidade, da mais tosca a mais sofisticada, que propicie chances para as pessoas exercerem o pensar têm a minha adesão entusiástica.

6) Como conhecer mais das suas produções? Você tem outros trabalhos a partir de leituras de filmes?

Minha produção está no campo da antropologia da saúde, ainda que discutindo uma tecnologia visual médica, 'quase' cinema, o ultrassom obstétrico. Está no livro Meio quilo de gente: um estudo antropológico sobre o ultrassom obstétrico, editado pela FIOCRUZ. O único trabalho que fiz sobre filmes foi uma discussão no ciclo Cinema em Carne Viva, David Cronenberg, coordenado pelo Prof. Tadeu Capistrano, no ano passado na Caixa Cultural. Email para contato: liliankc@ig.com.br


Convido a todos os que gostam do esporte de pensar, que compareçam para, depois desse filme divertido e meio trash que é Rabid, exercermos juntos essa atividade, trocando ideias, pontos de vista e experiências.

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