1) Você sempre gostou de cinema? Por que falar a partir dele?
Desde criança adoro cinema. Gosto de falar da ficção de modo geral, de como as pessoas conseguem imaginar o mundo, pôr em crítica o seu tempo, as suas crenças. Quando eu era adolescente, comecei a gostar de filosofia pela literatura.
2) Você gosta de ficção-científica? No seu entender, por que este gênero é tão instigante para o pensamento?
Faz-se um exercício de simulação: isolam-se certas variáveis, definem-se algumas constantes e imagina-se como o mundo será. Tem-se uma visão do tempo descontinuísta. Quando alguém imagina o futuro, está pensando sobre o presente.
3) O que caracteriza, na sua visão, a experiência de tempo da nossa sociedade - com a disseminação das novas tecnologias da informação -, em comparação com o tempo profundo dos processos geológicos e do mundo natural?
Um dos modos de se diferenciar a cultura é diferenciar o modo como se habita o tempo. Na cultura moderna, o passado limita o presente e o constitui em sua possibilidade de abertura. O presente se via constrangido pelo passado. Hoje, o futuro aparece como catástrofe a ser adiada, o que significa que as ações no presente são orientadas por antecipações de futuro, que pode limitar o presente ao futuro antecipado, que é na verdade sobre o que o filme trata. Hoje há uma aceleração das mudanças geradas pelas tecnologias da informação. Ao colocar o homem no tempo profundo, diante de uma realidade desmesurada, talvez se possa orientar melhor essas mudanças, já que desta forma nos perceberíamos como fazendo parte do cosmos em vez de tudo fazer para conseguir acompanhar as mudanças e dominar as tecnologias da informação.
4) Partindo deste contraste, de que modo a intuição do romance de Philip K. Dick - que inspirou o filme -, de uma possível antevisão do futuro, se coloca como interessante para pensarmos a história, a cultura e a atualidade?
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