quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mãos à obra!



Alô, alô, o Portal Tela Brasil abriu inscrições para o Concurso Faça Seu Curta e está oferecendo 20.000,00 para o melhor projeto de curta-metragem de ficção, inédito e original, com duração máxima de dez minutos. O tema é: Ideias para Sustentar o Mundo.

Escreva, escreva, escreva!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Lucia, a ficção e o feminino

Conversa com Lucia de La Rocque, Doutora em Ciências Biológicas pelo IBCCF/UFRJ, pós-doutora na área de Antropologia, Gênero e Ciência pela UFRGS, pesquisadora do IOC/Fiocruz, professora de Literatura Inglesa da UERJ e palestrante do Ciência em Foco de 2 de julho.







"A ciência não corresponde a conjuntos de conhecimentos 'puros', mas a intrincadas relações de fatos, ideias, ideologias. É aí que a FC (ficção científica) feminista nos mostra: não existem escolhas simples nem puras, todo o tempo precisamos pensar de onde e como falamos para nos posicionarmos de maneira mais firme e honesta num mundo em que ninguém, na realidade, tem as respostas certas, mas cada vez mais perguntas".

1) Como começou a sua relação com o cinema?

Bom, meus pais adoravam cinema, e desde cedo me levavam junto. Durante muito tempo, eu dizia que o melhor filme que vira tinha sido O Grande Amor de Nossas Vidas. Vi com 6 anos (The Parent Trap, de 1961, com a Hayley Mills fazendo o papel das gêmeas que tentam unir os pais separados, papel desempenhado numa versão bem mais recente por Lindsay Lohan). Mas o grande filme da minha infância, e entre os maiores de toda a minha já longa vida, foi My Fair Lady (1964), eu deveria ter uns 9 anos, e fiquei encantada com a Audrey Hepburn, a música, tudo... Já gostava da língua inglesa, mas creio que foi a partir desse filme que decidi que iria me aprofundar na mesma... O encanto com a FC (ficção científica), tanto com a literária quanto a cinematográfica, chegou um pouco mais tarde. Nesse campo, assim como o da literatura vs cinema 'realista', meu primeiro impacto, no sentido fílmico, sucedeu ao literário, que se iniciou com a leitura das obras de Julio Verne, quando tinha mais ou menos 11, 12 anos. Mas quando assisti 2001, Uma Odisseia do Espaço (1968), aos 15, saí estonteada...

2) O conto da aia é uma adaptação do romance da Margaret Atwood pelo diretor alemão Volker Schlöndorff, um expoente do chamado 'novo cinema alemão', que tem como marca as adaptações de livros, como a do romance de Günter Grass, O tambor (um filme que lhe rendeu até mesmo o Oscar e a Palma de Ouro, em Cannes). De que maneira o filme se apropria do romance, ressignificando e potencializando suas questões?

Toda adaptação cinematográfica é, naturalmente, um recorte, uma visão que pode lembrar mais ou menos o livro. Digo isso porque justamente no momento estou lendo, com alunos do mestrado em Literaturas de Língua Inglesa da UERJ, I am Legend, um romance publicado por um americano, Richard Matheson, em 1954 e, como a leitura sucedeu o contato com a versão cinematográfica de 2007, fiquei pensando como o diretor, buscando o sucesso comercial, mudou aspectos essenciais do livro; a ponto de, a meu ver, criar uma história totalmente diferente, sendo que o romance é mil vezes mais instigante.

Meu filho de 15 anos diz o óbvio: "O livro é sempre muito melhor do que o filme". Sabemos que há a necessidade de adaptação de linguagens, o enquadramento das ideias em imagens concretas que, por vezes, frustram nossos voos imaginativos. Retornando ao nosso filme, diria que Schlöndorff, em minha opinião, foi mais feliz ao 'traduzir' o trabalho de Grass que o de Atwood; arriscaria até um lugar comum, ao especular sobre o sucesso se dever em parte à culturas mais próximas. O diretor de O conto da aia acerta a mão ao enfatizar a opressão sobre as mulheres, mas deixa muita coisa de lado, como não poderia deixar de ser. A ambiguidade da questão da censura (desejada pelas feministas contra a indústria pornográfica, o que é uma discussão no campo do feminismo) fica pouco explorada; uma outra falha é o final, muito mais happy end que o fim mais que incerto do romance. A fina ironia de Atwood, que atinge o seu ápice nas Notas Históricas ao final (que o filme deixou de lado) não passa, por essa e outras razões, bem para o filme. Talvez, nesse ponto, precisasse de um Woody Allen mais trágico para conseguir essa transposição...

3) O conto da aia, o livro, teve a honra de receber o primeiro prêmio Arthur C. Clarke, em 1987, que o distinguiu como melhor romance de ficção científica do ano anterior, no Reino Unido. De que forma, e a partir de quais linhas de força, as temáticas sociais ganham espaço na ficção científica?

O fato de o romance de Atwood ter ganho esse prêmio mostra o ganho de espaço, no campo da FC como um todo, da 'soft science fiction', que, como o próprio nome indica, tem mais a ver com as ciências 'moles', as ciências humanas - história, sociologia, psicologia - e não com as 'duras', mais tradicionalmente ligadas à ficção científica, como a biologia, a física e a química. A ascenção dos temas sociais no campo da ficção científica, que é um fato inquestionável e constante, é marcante a partir do contexto sociohistórico particularmente questionador e efervescente do final dos anos 60. Desde então, todas as questões que marcaram esse momento, citadas por Moylan (2000), como o movimento dos direitos civis, das minorias sexuais, o grito dos excluídos e as múltiplas vozes do feminismo, além dos questionamentos éticos sobre os poderes aparentemente ilimitados da tecno-ciência, questionamentos esses iniciados por Frankenstein de Mary Shelley, de 1818, vêm ganhando cada vez mais terreno no campo da FC, e se concretizando em obras como The Left Hand of Darkness (1969, de Ursula Le Guin), The Handmaid´s Tale (1985, de Margaret Atwood,) e Never Let Me Go (2006, de Kazuo Ishiguro).

4) Nas distopias, a extrapolação da realidade e o apelo à imaginação são algumas das características utilizadas pela ficção científica para denunciar tensões políticas e ideológicas nas sociedades. Como se insere, neste movimento, a crítica feminista? Como ela contribuiu – e segue contribuindo - para um questionamento do papel da ciência?

Como você bem diz, a extrapolação da realidade pela FC nas distopias faz com que nos afastemos do nosso próprio 'mundo real' o suficiente para questionarmos se a realidade alternativa que nos está sendo apresentada é assim tão, e como, diferente da nossa... Como diz meu 'guru' Moylan, o processo, no caso da FC de qualidade, é um 'escapismo' que nos faz pensar, e ainda segundo esse crítico, o questionamento mais contundente da época da 'virada' da FC acima mencionada, dos anos 60 e 70, veio da FC feminista. Esse tipo de literatura crítica se serviu dessas estratégias de afastamento para conduzir o leitor a indagações do tipo: qual é o papel da mulher na sociedade? Até que ponto o fato de a mulher, por mais que as coisas mudem, ser ainda a que engravida e amamenta, interfere na delimitação desse papel? O patriarcado é determinado pelo poder dos homens, mas de que forma a mulher contribui para manter, ou até mesmo incentivar a manutenção do mesmo? Questões como essas atravessam os campos de poder, nos quais a ciência se insere. A ciência não corresponde a conjuntos de conhecimentos 'puros', mas a intrincadas relações de fatos, ideias, ideologias. É aí que a FC feminista nos mostra: não existem escolhas simples nem puras, todo o tempo precisamos pensar de onde e como falamos para nos posicionarmos de maneira mais firme e honesta num mundo em que ninguém, na realidade, tem as respostas certas, mas cada vez mais perguntas.

5) Levando em conta as recentes conquistas, em um contexto global, de grupos e movimentos de minorias historicamente oprimidas, que conexões poderiam ser estabelecidas com as questões suscitadas pelo filme sobre o universo feminino?

As conquistas desses grupos são, como sabemos, não só o resultado da força sociohistórica e política desses grupos, mas de fortes interesses econômicos em jogo, ou seja, de alguma forma, interessa também a grupos hegemônicos que essas minorias de alguma forma ascendam. Assim, no caso das mulheres, era interessante economicamente, na propaganda dos anos 50, mostrá-las como anjos do lar, donas de casa perfeitas, sendo que hoje em dia muitas propagandas têm um teor 'feminista', buscando claramente uma fatia considerável do mercado, a de mulheres com total independência financeira. No caso do filme, que nesse ponto é bem fiel ao livro, esse aspecto socioeconômico é deixado de lado. O golpe que leva à República de Gilead não tem seus antecedentes bem explicados, o que poderia e foi de fato visto como um ponto fraco da obra. Atwood, no entanto, defendeu-se da pecha de criadora de uma sociedade alternativa por demais descolada das 'reais' dizendo que todas as atrocidades mencionadas no filme já ocorreram em tempos e lugares dispersos da história humana. Penso que respondeu bem, e que, para além disso, podemos pensar no que acontece como questões gerais, tipo, o poder das Tias, como elas se juntam ao opressor em vez de se posicionarem a favor das Aias, ou seja, a ânsia de poder sendo muito superior a qualquer lealdade de gênero. Outro ponto é que, no nosso mundo pós-moderno, temos casos em que mulheres oriundas do Terceiro mundo, ou simplesmente mais pobres, são utilizadas como mães de aluguel para casais prósperos com problemas de fertilidade, o que certamente ecoa de alguma forma nas práticas aviltantes de que as Aias participam no filme.

6)Em seu modo de ver, qual a importância de atividades como os cineclubes enquanto espaços de pensamento e divulgação científica?

São espaços preciosos, os filmes apresentam de forma impactante e rápida histórias que levariam dias (com o tempo curto de que dispomos, provavelmente meses...) para serem lidas. A despeito de tudo que disse acima sobre a decepção de ver uma história conhecida pela leitura filmada, os filmes atingem os sentidos de uma maneira imediata, envolvente, possibilitando justamente a união de pessoas interessadas em discussões acerca de temas contemporâneos, envolvendo filosofia, ética, enfim, ideal para constituírem esses espaços de pensamento e divulgação científica. Nunca desistam do Ciência em Foco: é uma iniciativa que deveria ser imitada e, principalmente, disseminada em escolas, associações de comunidades, enfim, lugares onde se pudesse estimular os jovens, principalmente os mais pobres e com menos acesso a filmes de qualidade em geral, a travar contato com este mundo de ideias trazidas pelo cinema.

Quem gostou da entrevista e quer conversar diretamente com a Lucia, é só escrever para: luroque@ioc.fiocruz.br









sexta-feira, 17 de junho de 2011

Uma verdade mentirosa? Uma mentira verdadeira?



Quer conhecer um pouco mais sobre ficção-científica? Suas ligações com a ciência e a tecnologia, seu percurso histórico e suas interfaces com o cinema? E, de quebra, ainda saber um pouco mais sobre a próxima palestrante do cineclube Ciência em Foco, Lucia de La Rocque, e suas discussões sobre ficção-científica? Aproveite para ler o artigo "A ciência como inspiração", publicado na Ciência Hoje, e se inspirar para o encontro de 2 de julho!





quarta-feira, 15 de junho de 2011

Mulheres em foco


Minorias historicamente oprimidas são pautas corriqueiras de jornais, livros e filmes. Participando desse debate, o Ciência em Foco de 2 de julho exibe O conto da aia, em que as mulheres são alvo de dominação. Subjugadas por uma teocracia cristã fundamentalista, dividem-se em castas, com funções sociais bem definidas. No cineclube, as aias, mulheres férteis obrigadas a engravidar, ganham voz através da professora de Literatura Lucia de La Rocque, que irá discutir a literatura utópica/distópica de autoria feminina, e questões de gênero, ciência e saúde enfatizadas pela ficção científica, como as que envolvem o domínio patriarcal sobre o corpo e a mente das mulheres. Até lá!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Carta aberta aos amigos do cineclube



Caros, estendemos aqui uma resposta a um seguidor do blog que entrou em contato para saber notícias do podcast. Como publicamos em nota alguns meses atrás, passamos por alguns problemas técnicos (muito mais do que gostaríamos) no processo de captação e edição dos podcasts. Estamos trabalhando para recuperar o possível e, em breve (assim esperamos), disponibilizar o material pela internet. Pedimos desculpas pela demora e esperamos poder tornar o cineclube (com tudo o que vem junto) ainda melhor para todos! Grande abraço, a equipe.














segunda-feira, 6 de junho de 2011

Medo do futuro, alegrias do instante

No último sábado, Os doze macacos invadiram o Ciência em Foco. A ficção-científica de Terry Gilliam foi o ponto de partida para uma reflexão em torno do medo contemporâneo relacionado aos riscos biológicos e às epidemias, passando pelas viagens no tempo e culminando em uma ética capaz de afirmar o instante. O pesquisador do IOC/Fiocruz Paulo Vasconcellos-Silva, doutor em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) e professor de bioética da UNIRIO, dividiu sua fala em três momentos, iniciando pela camada filmográfica, salientando elementos comuns ao longo da obra de Terry Gilliam, desde a época em que pertencia ao grupo de humor inglês Monty Python. A expressiva visualidade que ele trazia ao grupo é algo que se projeta também em suas obras posteriores. As condições patéticas, os cenários e as alegorias, são utilizadas por Gilliam para fazer ironias políticas com tecnologias de opressão do homem, como em Brazil: o filme (Brazil, 1985), que faz paródia de 1984, romance de George Orwell. Assim como Os doze macacos, o filme também tem como cenário um futuro distópico (ou seja, um futuro que não deu certo, em oposição ao que seria um futuro utópico).

As ironias se estendem a Os doze macacos, no qual a própria máquina do tempo é apresentada com uma tecnologia absurda, análoga a um desenho animado. As cenas que mostram o hospício e os médicos também são análogas às que mostram o presídio e os carcereiros, que partilham das mesmas tecnologias de opressão. Foi no segundo momento de sua fala que Paulo comentou a distopia trazida pelo filme, que se associa ao medo, bastante atual, relacionado ao risco biológico. Após retratar o medo nuclear da época da Guerra Fria e também o medo da invasão extrateterrestre, o cinema se volta aos medos atuais. O surto de influenza recente, a gripe aviária, a gripe suína e toda a comoção em torno do risco de pandemias, são realidades que alimentam o imaginário popular e, de algum modo, são expressos pelo cinema de variadas formas.

No terceiro e último momento de sua fala, Paulo comentou especificamente sobre o tempo, fazendo uma distinção entre o tempo fenomenológico - o tempo da percepção, das nossas experiências - e o tempo linear da física, que é geralmente o que está em evidência na maioria dos filmes de ficção-científica, no qual um viajante poderia trafegar para a frente ou para trás. Os doze macacos apresenta uma tensão destas concepções de tempo, privilegiando ao fim o tempo fenomenológico, cuja temporalidade não se sustenta na linearidade do tempo da física. Apoiando-se nas lições da filosofia perspectivista do alemão Friedrich Nietzsche, Paulo finalmente comentou o intrigante título de sua palestra: como trafegar no tempo sem perder os dentes. O que seria importante em nossa vida, e o que estamos buscando? Um modo de se avaliar uma boa vida pode ser entrevisto a partir do teste da lei do eterno retorno, proposto por Nietzsche. Para passar no teste, teríamos que considerar um verdadeiro prêmio a notícia de que nossa vida irá se repetir eternamente. Deste modo, haveríamos de prestar maior atenção às coisas simples que nos dão alegria, pelas quais passamos, na maioiria das vezes, de forma despercebida. Arrancar os dentes, na lógica do filme, seria uma forma de trapaça, de enganar o instante para corrigir aquilo que já passou.

Foi um sábado repleto de discussões e questionamentos, intensificados pela bela apresentação de slides feita por nosso convidado. Nossa próxima sessão acontece no dia 2 de julho, com a exibição do filme O conto da aia (The handmaid's tale, 1990), de Volker Schlöndorff. Teremos a honra e a alegria de receber, como convidada do mês, a professora de Literatura Inglesa da UERJ, Lucia de La Rocque, que também é pesquisadora do IOC/Fiocruz. Ela é doutora em Ciências Biológicas pela UFRJ e pós-doutora na área de Antropologia, Gênero e Ciência pela UFRGS. Anotem, divulguem, e até lá!