quarta-feira, 26 de março de 2014

O que (não) separa a ficção da realidade?



No dia 5 de abril, o Ciência em Foco apresenta o filme O moinho e a cruz (The Mill and the Cross - Suécia/Polônia, 2010), do diretor Lech Majewski, seguido da palestra Com quantos frames se faz uma tela? O paradoxo das histórias pintadas e da pintura em movimento, com a professora Carlinda Nuñez - Doutora em Ciência da Literatura pela UFRJ.

O filme resgata para a tela do cinema a sensibilidade pictórica do quadro a óleo de Pieter Bruegel – A Procissão para o Calvário, de 1564, retratando seu processo de criação na região de Flandres. A paixão de Cristo é reencenada em um contexto de perseguições religiosas e políticas, promovidas pelos invasores espanhóis católicos contra as ideias reformistas protestantes na comunidade flamenga do século XVI. Rutger Hauer interpreta o pintor no filme, e nele explica a seu mecenas, Nicolaes Jonghelinck (Michael York), um rico mercador da cidade de Antuérpia, suas escolhas de composição e o sentido que ele busca dar à obra.

De acordo com Carlinda Nuñes, “uma tela do pintor Pieter Bruegel se vai montando, adquire vida: reconstitui a problemática política de sua época (séc. XVI) a partir do contraponto com a história sagrada, o que torna a narrativa enigmática e multiperspectivada. Abrem-se conexões entre política, religião, ética, vida cotidiana e arte, bem como a discussão sobre as fronteiras entre realidade e ficção”.

A tela de Bruegel tem mais de 500 personagens e 12 deles são eleitos para narrar a história vivenciada no filme, num ambiente esteticamente estilizado a partir do uso de cenários pintados conjuntamente com as mais recentes técnicas digitais. A realidade reinterpretada pelo cineasta polaco segue argumentos do exaustivo estudo sobre a obra de Bruegel realizada em 1996, na monografia "The Mill and the Cross", do reconhecido crítico de arte Michael Francis Gibson.